[22 de setembro de 2009]

Difusão de informações no Twitter: o RT e a irrelevância dos links

twitter.jpgRecentemente, fiquei bastante impressionada pela quantidade de links que são retwittados pelas pessoas sem que estas tenham se dado sequer o trabalho de ler o artigo. Digo isso, porque "pesquei" uma série de retweets durante um dia (cerca de 60 RTs), dos quais um alto número (sem relevância estatística) de 15% eram links quebrados. Muitos desses links quebrados, já tinham sido repassados várias vezes, e para várias sub-redes distantes daquela que tinha originalmente postado o link. De outro lado, passei um link para um artigo que achei ótimo, que na hora de publicar, o Twitter marcou como link também o travessão que separava o link do meu comentário. Apesar do meu link ter recebido 17 RTs no primeiro grau de separação, só recebi 3 mensagens reclamando que o link não funcionava.

A irrelevância do link?

Isso me fez pensar que, apesar de muita gente repassar muitos links, poucos são aqueles que realmente acessam a mensagem, lêem e qualificam-na para sua rede social. E embora esse mecanismo fosse o grande filtro do Twitter, ele começa a perder espaço para outros valores. A impressão que tenho é que a informação vale menos do que o nome do ator que está sendo retwittado. Ou seja, é menos importante o que está sendo dito do que quem disse. Embora essa seja uma conseqüência direta da negociação/criação e distribuição do capital social no Twitter e do investimento em influência, também ocasiona a perda do valor da informação, fazendo com que o RT tenha menos relevância prática. Afinal, se ninguém lê a informação, ela passa a ser irrelevante para a rede.

Claro, isso também pode ser um efeito direto da presença cada vez maior de bots no Twitter, mas igualmente, o argumento de que os links estão passando a um segundo plano talvez justamente por conta do "overload" de informação da apropriação na ferramenta continua. Recentemente, li alguns posts em blogs de pesquisadores que sigo no Twitter reclamando que não conseguiam dar conta das milhares de "@s" que recebiam com os mais variados pedidos e solicitando que as pessoas entrassem em contato por email. Também estou nessa. Apesar de usar o Twitter como ferramenta de informação, talvez pelo seu crescimento, também por conta das mensagens automáticas dos bots e talvez pela crescente apropriação conversacional, não consigo mais dar conta das mensagens que recebo todo o dia. Com isso, o valor da ferramenta cai um pouco pra mim e para outros. O que imaginei que seria o grande capital do Twitter, a informação, parece estar dando lugar a um outro recurso -a influência. O problema todo é que influência tem uma relação direta com reputação, que tem uma relação direta com a informação. Assim, parece-me que há uma "bolha" de influência falsamente inflada de RTs cuja informação não foi filtrada pela rede. Resta-nos acompanhar para ver o quanto isso é apenas momentâneo e o quanto será uma tendência para os próximos meses.

Update: Em relação aos comentários, algumas pessoas chamaram a atenção com o questionamento da fonte dos RTs que mencionei: os que comentei aqui que foram "pescados" na timeline pública do Twitter, não entre as pessoas que sigo.
por raquel (07:59) [comentar este post]


Comentários

EmilyBianquini (setembro 22, 2009 8:25 AM) disse:

Raquel...eu não acredito que as pessoas não leiam os links...
o que acontece é o seguinte...alguns links, depois de alguns minutos sofrem algum "defeito" e quando os acessamos acontece isso que vc chamou de quebrar. Eu mesma já postei vários links e as pessoas reclamaram que não conseguiam ver o conteúdo.
Acho que é isso.
Bjss
Emily

André Covre (setembro 22, 2009 8:40 AM) disse:

Um amigo, lá com os seus 65 anos, sempre me faz a mesma pergunta, que é a que, segundo ele, ele sempre fez desde o rádio, passando pela tv, pelos jornalões impressos, e agora olhando para a internet, para essas questões da informação, quantidade, relevância, influência, etc... sempre a mesma pergunta: o que fazer com tanta informação?

everton maciel (setembro 22, 2009 8:44 AM) disse:

Nunca tive esse problema e vejo a maioria dos links que recebo. Estás seguindo muitos manés. Ou procurando só twitter de aborrecente.

Andre Almeida (setembro 22, 2009 9:16 AM) disse:

Não acredito que as pessoas não leiam os links que elas dão RT. Acredito que apenas as pessoas viram o seu erro e retiraram o traço a + que havia no link.

Alessandra (setembro 22, 2009 9:31 AM) disse:

oi, Raquel. Há algum tempo tenho percebido esse fenômeno que você descreve. Links quebrados e com vírus passados adiante sem checagem, confiantes no @ que enviou. É mais um tipo de eco que se baseia no nome do emissor e não na informação. Retrocesso. Depois de tanto malhar a TV, os papagaios dos noticiários e dos programas de fofoca, o pessoal que dá RT sem ler cai na mesma armadilha de reverberar sem avaliar o conteúdo. Ou de não dar atenção a um link hoje, pq quem deu é "só mais um", mas de repassar o mesmo link, quando 3 dias depois alguém "de respeito" anuncia o link.
Concordo com sua análise final sobre esse momento do twitter.

Sagaz (setembro 22, 2009 9:33 AM) disse:

é a orkutização do twitter... brasileiro em geral tem uma grande preguiça de ler, mas ao mesmo tempo tem a necessidade de parecer culto e bem informado e pra suprir essa necessidade repassa qualquer coisa que alguem mais informado tenha publicado, sem nem verificar se é fato ou não.

Marisa Lemos (setembro 22, 2009 10:28 AM) disse:

Raquel,
A influência é clara porque quando estamos em um determinado grupo de interesse, a mesma informação chega para todos e é disseminada por várias pessoas. Por exemplo: notícias sobre métricas de internet divulgadas pelo IDG Now. Profissionais que trabalham com marketing digital fazem uso dessa informação, e vários com certeza seguem a fonte primária. Então, muitos dão RT na mensagem, mas a origem do RT vai variar entre a fonte primária e várias outras fontes secundárias. Eu, em geral, dou RT na origem da informação, por uma questão de crédito e, às vezes, espaço. Mas canso de receber a mesma notícia como RT de perfis variados.
A influência acaba sendo o filtro. Com a quantidade cada vez maior de informações, você escolhe ler tweets dessa e não daquela pessoa, mesmo ela também estando entre as pessoas que você segue.

Rodrigo (setembro 22, 2009 5:10 PM) disse:

Originalmente o Twitter deveria ser um microblog, onde as pessoas produzissem conteúdo e postassem, por menor que fosse. Uma forma de avisar aos amigos onde estamos, o que estamos fazendo ou algo importante que tomamos conhecimento e merece ser divulgado.

Só que a maioria não sabe disso. Usa o twitter como chat e, na incapacidade de produzir conteúdo, fica repassando tudo o que recebe.

Este tipo de gente deveria antes perguntar se o que ela vai postar é realmente importante. Se as dezenas de seguidores dele precisam ler (ou apenas o miguxo citado na arroba). E, finalmente, lembrar que pessoas inteligentes já seguem portais de notícias e blogs de afinidade.

Já exclui alguns amigos reais do Twitter pelo simples fato de que não escrevem nada que valha a pena. Também, raramente dou RT, e só posto quando é um assunto que interessa a TODOS. Então, Raquel, infelizmente, quando há excesso de informação (links), é porque ela se tornou repetitiva e inútil. É hora de filtrar melhor quem se segue!

Arnaldo Queiroz Ribeiro Filho (setembro 22, 2009 5:23 PM) disse:

Com certeza existem bots, mas a informações estão sendo repassadas corretamente , acho que o que ocorre as vezes e de um link não suportar tanta gente em seu servidor, estava ontem nos seminários info em sp, @cardoso falou que fez um teste com apenas um RT de marcelo Tas foram geradas mais de 9 mil visitas no blog dele. sem contar os RT's. Acho que perfil, que tem que se analisar é a qualidade de seguidores.

Alberto Calil Junior (setembro 22, 2009 6:30 PM) disse:

Raquel,

Bem interessante a sua análise mas fico me perguntando se antes da pergunta sobre os usos do twitter não seria válido perguntarmos quem e porquê a opção por utilizar o twitter. No seu próprio update você apontou que a sua análise não contemplava as pessoas que você segue. E essas pessoas, elas conferem os links?

Me parece que esta ferramenta (será que poderíamos falar que é uma ferramenta para todos?)tem sido apropriada de distintas formas pelos atores e cada rede vai dar o seu colorido. Seguir os traços deixado por estas cores se apresenta como um exercício interessante.

Alberto Calil Junior (setembro 22, 2009 7:05 PM) disse:

Raquel,

Bem interessante a sua análise mas fico me perguntando se antes da pergunta sobre os usos do twitter não seria válido perguntarmos quem e porquê a opção por utilizar o twitter. No seu próprio update você apontou que a sua análise não contemplava as pessoas que você segue. E essas pessoas, elas conferem os links?

Me parece que esta ferramenta (será que poderíamos falar que é uma ferramenta para todos?)tem sido apropriada de distintas formas pelos atores e cada rede vai dar o seu colorido. Seguir os traços deixado por estas cores se apresenta como um exercício interessante.

Letícia Alves (setembro 22, 2009 7:12 PM) disse:

Sigo as fontes primárias, e às vezes dou RT nos seus tweets ou de quem acho relevante, mas eu leio as informações, pois para mim o twitter além de fonte de informação é também objeto de estudo.
Concordo que a influência está acima da relevância do conteúdo, a questão é filtragem mesmo.
Abraços!

Leo Lagden (setembro 23, 2009 11:43 AM) disse:

Novas ferramentas, velhos hábitos.
Muitos não se dão o trabalho de verificar o conteúdo do link, apenas quer se mostrar influente e inteirado dos assuntos.
Uso o twitter com bastante parcimônia e pé atrás do que é enviado.
Sempre acesso os links que me parecem interessantes e somente dou um RT se achar essencial para a divulgação, independente da pessoa que mandou (famosa, influente ou não).

Thiago S. Rosa (setembro 24, 2009 11:35 AM) disse:

Discordo com o conceito de Orkutização falado nos comentários acima. Isso depende muito do usuário e como utiliza e entende a ferramenta. Eu, por exemplo, posso dizer que entendo o Orkut e não tenho problemas com a ferramenta. Gerenciar alguma dessas redes sociais deve ser bem pensado. A exposição que era local tornou-se global, e muita gente não entende isso. Conflitos culturais são criados por bobagens, e falo isso porque ja tive a oportunidade de acompanhar isso por conta de mensagens do twitter mal interpretada. O maior problema é que muita gente busca numeros absolutos sem dar conta da importancia do valor da informação, que é relativa. E muitas vezes, nós temos o receptor falhando como fazer esta informação circular. E o Twitter, que é uma ferramenta que utiliza muito bem o conceito de arvore compartilhada, exponencializa este fato como nenhuma outra rede.

Israel Scussel Degásperi (setembro 24, 2009 12:38 PM) disse:

Acredito que possa acontecer de algumas pessoas retuitarem sem ler. Mas no geral, as pessoas leem sim. Ou entende-se por geral os heavy users que realmente estão no twitter para se beneficiar da informação e colaboração... gente que vai junto no oba oba também tem , como em qualquer lugar, infelizmente...

Alec Duarte (setembro 25, 2009 2:14 AM) disse:

Raquel,

Não vivo o fenômeno descrito com frequência (no geral, os links em que clico abrem), mas creio que você despreza o poder do título associado à reputação do emissor.

É, também, uma possibilidade do microblog. A distribuição de bons e informativos títulos. É tarefa altamente jornalística, aliás.

abs

Lucas Castro (setembro 28, 2009 10:39 AM) disse:

Na timeline geral do twitter tem muito spam.
Como separar o ruído do que é dado de verdade nesse caso?

Reputação do emissor é a saída.

Ian Borges (setembro 28, 2009 11:21 AM) disse:

Raquel,

Muito interessante a sua pesquisa e concordo totalmente que há muitas pessoas que RT muitas notícias sem ao menos ler a matéria ou artigo simplesmente pelo fato de achar o título relevante ou interessante... Talvez o façam para passar a idéia quesão bem informados ou simplesmente para se tornarem referencias como fonte de informação filtrada.

Mas é isso ai, faz parte do jogo!

Abcs

@Raquelbenington (setembro 28, 2009 11:25 AM) disse:

Como disse o Sagaz "é a orkutização do twitter", mas também acredito que a vontade de repassara informação até mesmo antes de ler e grande, pois se a informação e de interesse público os RT tem uma função brilhante o da disseminação da informação em curto tempo. Parabéns pela matéria.

Jeff Paiva (setembro 28, 2009 12:04 PM) disse:

Das ironias da vida: Quem retuitou este artigo na minha timeline digitou errado a mensagem após o link - que quebrou! Neste caso específico foi erro de digitação e uma certa "estabanação".

Ótimo artigo, Raquel.

APU, Flávio Morais (setembro 30, 2009 8:28 AM) disse:

Eu já acreditava nisso, mas ver a coisa acontecendo igual acabei de ver, é realmente mais chocante. Por isso estou voltando a este belo artigo, só para comentar.

Edmilson (outubro 21, 2009 2:54 AM) disse:

Estou começando meu site na area de tecnologia ja escrevi pr outras areas mas nunca procurei divulgação, as dicas me fizeram pensar melhor sobre como me divulgar, obrigado.

Rafael (outubro 24, 2009 7:36 PM) disse:

Oi Raquel,

Para falar de mim, só dou RT em links que li e os quais acredito ser de interesse para quem me segue, sempre baseado na premissa do conteúdo, seja ele informativo, humorístico ou de outra natureza. Não tenho nem 100 seguidores no Twitter, sendo que desses "nem 100" acho que só uma meia dúzia ou pouco mais é gente que realmente está interessada em acompanhar o que eu twitto. Dessa forma, procuro não aborrecer ninguém. Às vezes, lembrando do conceito de "microblogging", twitto sim pensamentos meus e coisas que sinto vontade de colocar dentro dos 140 caracteres. E é isso. No mais, Twitter, pra mim, é informação, diversão e entretenimento e não deve ser levado tão a sério. Pra mim.

Abraços

Rafael

Sérgio Miranda (outubro 24, 2009 8:58 PM) disse:

Faz pouco tempo que adentrei ao Twitter e infelizmente começo a perceber a tão discutida orkutização.
Ferramentas com o selo de verificação seja algo para assegurar que o que é transmitido na rede possa ter alguma relevância.
Ainda não encontrei os links quebrados e somente RT links ou mensagens que tenham a ver comigo.
Mas depois de alguns que começaram a utiliza-lo como "ganha pão" fica difícil controlar o boom de links quebrados, vírus e com conteúdo inútil.
Belo artigo Raquel. Parabéns.

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