[20 de junho de 2009]

Sobre Sites de Rede Social: Orkut, Facebook e MySpace

networkmap350.gifNos últimos tempos, depois de praticamente 4 anos trabalhando muito no Orkut, tenho focado outros sites de redes sociais. Dois deles têm chamado minha atenção de modo especial: o Facebook e o MySpace.

O Facebook ganhou mercado com a espertíssima idéia de abrir o sistema para a construção de aplicativos por terceiros, coisa bastante ousada para alguns anos atrás. Trata-se não apenas de deixar que outros desenvolvam para a plataforma, mas igualmente, que outros ganhem dinheiro com o sistema deles. O desenvolvimento de aplicativos foi certamente um dos grandes motores por trás da popularização do Facebook. Os aplicativos, que vão sendo cada vez mais diferenciados, mantêm a atenção e o valor do site, gerando interesse dos usuários por manter a conta. Uma imensa quantidade de usuários entra para conhecer os jogos, para responder quizes e por recomendação de amigos. Isso porque a maior parte dos aplicativos do FB é social, ou seja, só tem "graça" se seus amigos também participarem. Além disso, alguns dos aplicativos do FB são surpreendentemente bons e bem feitos, o que, por si só, agrega valor.

O MySpace, por outro lado, decidiu investir principalmente na segmentação. Assim, de site "adolescentóide" como chegou a ser tratado nos EUA, virou um sistema voltado para a música, onde todas as bandas querem estar e onde os fãs podem ouvir as músicas, comentá-las e conhecer outras pessoas. O foco na música foi uma jogada muito interessante porque também gerou um interesse diferenciado na ferramenta. Há muitos usuários de várias idades, que apenas fizeram suas contas para "ouvir música" ou para ajudar suas bandas favoritas. Além disso, o MySpace congrega várias ferramentas de informação, o que valoriza a atualização dos perfis.

Nesse sentido, acho que as duas ferramentas inovaram, ultrapassando o Orkut em termos de manutenção do interesse social. Mesmo com a implementação tardia do Open Social, o Orkut não conseguiu correr atrás do Facebook na questão dos aplicativos. Assim, esses sites têm hoje desafios completamente diferentes. Enquanto o Facebook cresce a olhos vistos, enfrenta os problemas de seus milhares de aplicativos com notificação: o spam social. Com a complexificação da rede (quanto mais atores entram no sistema, mais densa torna-se a rede, pois há novas conexões e proximidade), as notificações começam a ficar exageradas e já é comum observar a irritação das pessoas com convites/informações/ mensagens automáticas do Facebook. O Myspace, por outro lado, precisa inventar modos de facilitar a interação social. Isso, do meu ponto de vista, passa pelo velho problema da interface. Vejam, não é que o sistema não tenha conteúdo interessante: tem, mas é difícil de encontrar e nem todo mundo gera por não saber como fazer.

De uma certa forma, a falta de inovação para a manutenção do interesse social parece ser um problema sério para o Orkut. Sem motivo para que as pessoas acessem, a tendência é que o tráfego vá caindo e que as pessoas, por fim, acabem por deletar seus perfis. Não estou dizendo que o Orkut não é utilizado. Mas o trabalho com os usuários parece apontar sim para uma falta generalizada de interesse na ferramenta. Antes, era comum que os informantes comentassem que entravam 4, 5 vezes por dia na ferramenta. Hoje já entram bem mais raramente (1 vez a cada 2, 3 dias). A maioria também parece ter a percepção de que o sistema está "parado" e que as pessoas atualizam pouco seus perfis. Isso indica que há um desinteresse, e que os usuários passam a procurar outras ferramentas que apresentem algum diferencial. Resta ver qual será a estratégia do Orkut para se reposicionar (ou não).
por raquel (08:41) [comentar este post]


Comentários

Eduardo Rocha (junho 20, 2009 11:41 PM) disse:

Também identifico uma falta de vontade do Orkut em melhorar a ferramenta e o ambiente de interação que ela proporciona. Sobre os motivos, só podemos especular, mas chama atenção a falta de cuidado do Orkut com seus usuários e desenvolvedores, em seus respectivos fóruns. A equipe do Orkut simplesmente não interage, não existe espaço para conversa e sugestão de melhorias.

Isso é especialmente preocupante no forum de desenvolvedores de aplicativos. O diretorio privilegia absurdamente os "new comers", que aparentemente não se esforçam em melhorar os aplicativos (BuddyPoke seria uma exceção, mas não a única). E do jeito que essa dinâmica está, novos desenvolvedores tem muita pouca chance de visibilidade, mesmo que a qualidade e inovação de seus aplicativos sejam superiores.

André Covre (junho 21, 2009 1:12 AM) disse:

Vou comentar talvez até mais o comentário do Eduardo do que a postagem da Raquel. Mas, de certo modo, vou comentar essa percepção de "falta de vontade" ou abandono do Orkut. Fiquei me perguntando de que tipo de usuários estamos falando? Esses que estão migrando para outras redes sociais e abandonando vagarosamente e depois fechando suas contas no Orkut, se é que isso está acontecendo de forma massiva, não seriam exatamente os usuários que fizeram do Orkut um sucesso brasileiro.
Não é gente que desenvolve aplicativos. Não sou estudioso do Orkut, mas tenho a percepção de que os usuários estão lá para criar e atualizar os perfis e compartilhar com os grupos sociais mais restritos, que giram em torno de família, escola, trabalho, etc.
É gente que participa sim de maneira ativa mas não desenvolvendo o Orkut, ou procurando transformá-lo, apesar de me parecer que o próprio Orkut se modificou ao longo do tempo por conta dessa participação.
O que estamos observando talvez sejam processos de reinvenção das redes sociais que caminham, em algum momento, para alguma estabilização. Não seria isso que está acontecendo com o orkut? Não sei.

raquel (junho 21, 2009 8:32 AM) disse:

André: Acho que tens uma excelente percepção. Não acho que exista uma migração do Orkut de forma massiva. Mas acho que existe uma queda do uso (número de logins, tráfego, por exemplo), porque não há esforço em manter o usuário lá. :) E penso que isso é potencialmente perigoso, pois pode gerar uma migração. Mas tens razão em tuas colocações.

raquel (junho 21, 2009 8:35 AM) disse:

Eduardo: Pois é. Não entendo também. Acho que pode ser que tenham pouca gente trabalhando nisso, ou que o Google tenha decidido que não vale a pena investir.

adriana amaral (junho 21, 2009 1:59 PM) disse:

Raquel, o MySpace realmente é uma ferramenta de nicho (o da música) como já abordei em alguns artigos. O que interessa lá é a relação entre fãs-produtores de música (bandas, etc). Ele ainda tem problemas de interação e com a própria interface e não sei se eles tem interesse em melhorias, uma vez que o público dele está contente.Pelo menos com a maioria dos usuários djs. bandas que já falei, mas depois comento mais

Pedro Ivo Rogedo (junho 21, 2009 5:33 PM) disse:

Olá Raquel. Bastante oportuna e pontual a sua análise.
A abertura do sistema segue a mesma lógica da construção de inovação aberta. Por um lado, ela aumenta exponencialmente a quantidade de desenvolvedores para a sua plataforma. Por outro, que é diretamente ligado ao business em si, você cria o tal do lock-in através de massa crítica de indivíduos. A mesma lógica da Microsoft (com o Windows) e do Google (com o Gmail e o buscador em si). Assim, pelo que vejo, ambas tentam atingir o mesmo objetivo, mas enquanto o Facebook deu a largada para a criação aberta, potencializando sua capacidade de atingir rapidamente essa massa crítica, o MySpace revolveu tentar a mesma coisa só que em algo mais específico. Desculpe se isso parece meio enrolado...tenho ainda que melhorar isso... : )
Um livro que talvez possa te dar umas ideias bem legais sobre isso, com uma linguavgem não tão pesada é Chesbrough, Vanhaverbeke & West: Open Innovation, da Oxford University Press. Imagino que você vai tirar ótimos insights para sua pesquisa.
Abraços!

João Baptista (junho 21, 2009 6:59 PM) disse:

Concordo com as colocações feitas aqui por outras pessoas, segundo as quais o Google não estaria interessado em investir no Orkut. Embora seja arriscado especular acho que podemos ter certeza, ao menos, de que a relação custo x benefício não motivaria o Google a continuar investindo. Mas, além das motivações de ordem econômica, haveria uma outra motivação, não-econômica, por trás? Tenho esta dúvida, porque no Orkut ocorreu algo muito raro e que, provavelmente, não deve ter agradado nem um pouco a seus gestores e programadores: uma apropriação bastante expressiva da ferramenta, por parte de seus usuários (apropriação, numa das definições da Autora deste blog, seria um movimento de re-significação da ferramenta, por parte dos usuários). Conforme venho defendido, os controladores das ferramentas não veriam as apropriações com bons olhos, já que isso implicaria em maior poder - ou menor impotência e menor passividade - para os usuários e, claro, redução da margem de poder de quem manda no software. Me parece, nesse sentido, que teria ocorrido, no Orkut, um grau de apropriação da ferramenta pelos usuários, intolerável para seus gestores (no caso, o Google). Assim, por exemplo, acho ótimo que o Orkut tenha virado instituição cultural brasileira; porém, do ponto de vista dos gestores da ferramenta isso é péssimo, na medida em que se torna uma barreira que dificulta seu uso por usuários de outros países; também implica em imprevisibilidade em relação às características da ferramenta, o que desestimula anunciantes. E por aí vai. Em suma: usuário bom para os gestores é aquele que não se apropria da ferramenta, aceitando bem passivozinho e comportadinho os seus recursos e funcionalidades. Todavia, como anunciar neste momento a descontinuidade do Orkut traria prejuízo à imagem do Google, não deve ser descartada a hipótese de que este apenas esteja esperando a ferramenta se esvaziar e ir morrendo progressivamente aos poucos, porém cada vez mais. Então, fica essa coisa: não anuncia o fim do Orkut assim como já fez com vários de seus produtos, ao mesmo tempo em que também não investiria para torná-la mais atraente.

André Covre (junho 21, 2009 8:40 PM) disse:

João Batista. gostei dos seus apontamentos. como não sou da área, gostaria de saber se você poderia me esclarecer uma dúvida, afim de complementar o que você disse: Como a Google ganha dinheiro com o Orkut?

gilberto pavoni jr. (junho 22, 2009 11:41 AM) disse:

Enxergar as redes sociais pelo foco do lucro (monetização) urgente é algo ainda muito dos marketeiros. Eu, como tenho escrito e twittado por aí, frequento muitas LANs house na periferia de SP e só vejo Orkut nas telas. É um fenômeno brasileiro e indiano, não adianta tentar analisar isso pelas notícias q colhemos dos EUA.

Coordeno uma comunidade q discute Cibertultura no Orkut e o uso é bom como fórum, mas é exceção... embora conheça algumas assim ou melhores.

E Orkut não tem caído em números totais. Tem diminuído o crescimento, assim como todas as outras. O Twitter teve o mesmo movimento de desaceleração nos últimos meses, após o boom das celebridades. E foi muito mais rápido de acontecer isso do q o Orkut.

Não estou defendendo o Orkut...

O fato é q nenhuma rede social dá lucro e por isso elas não são prioridades em empresas como o Google, que têm outras fontes de receita. FAcebook e Twitter são diferentes nesse aspecto. Eles são a empresa. É preciso separar qq tentativa de futurologia.

Tem tanta coisa ainda por acontecer, q o melhor mesmo, para quem gosta do tema, é observar, como faz a RAquel, do q tentar prever.

Só pra lembrar... Murdock e o MySpace eram queridinhos há alguns anos e essa segmentação sobre música nem passava nos noticiários. Depois perceberam q havia mais gente interessada em escutar e descobrir o Pop e Rock'n Roll do q se relacionar. E muitos hispânicos (do ponto de vista da cultura americana). Aí, o noticiário foi todo pro Facebook... antes passou pelo SecondLife.

Infelizmente para uns e felizmente para outros, o futuro das redes sociais parece estar mais ligado ao Mkt. E, parece, q a única coisa a fazer é esperar os próximos passos nas estratégias corporativas... de fornecedores de plataformas e clientes.

Um q tem um crescimento pequeno, mas sustentável, e é relegado a segundo plano é o LinkedIn. É duro, chato, quadrado... mas útil. Não sei pq ninguém bota foco nele.

Tb não sei pq ninguém vê q os games online - no PC ou consoles - estão virando tb redes sociais.... E E o movimento de geo tagging??? E a possível segmentação das redes para os early adopters nessa pasmaceira de novidades??? Nesse ponto de vista, o Orkut já se estabilizou na função de "achar amigos" (pelo menos na Índia e no Brasil... e para a base da pirâmide social). E isso, essa consolidação, traz estagnação mesmo.... isso é bom? Em muitos negócios é.

Tem muita coisa por acontecer ainda. E qq análise ampla disso tem de vir acompanhada por dados de negócio. Nada de só tecnologia ou teorias de comunicação. A não ser q seja análise de tecnologia ou teoria de comunicação.
E quer saber... ninguém tem números azuis pra apresentar sobre negócios.

Márcio Leijoto (junho 22, 2009 12:42 PM) disse:

Oi, Raquel.
Primeiro dizer que sempre acompanho seu blog. Muito bom mesmo. Queria saber como faço para adquirir seu livro estando eu aqui em Goiânia. (Ok, eu sei que isso deveria ser posto em outro espaço...)
Segundo. Será que a queda no número de acessos ao Orkut não se deve também ao fato de que agora que muitos perfis são bloqueados para o público em geral, as pessoas tenham menos interesse em navegar pelo site? Afinal acho que um dos grandes interesses no orkut era "fuxicar" a vida alheia, já que, como vc mesma disse, o Orkut demorou para oferecer aplicativos extras.
Abraço.

André Covre (junho 22, 2009 5:16 PM) disse:

Caro Gilberto, gostei muito dos seus esclarecimentos... muito obrigado.

Rejane Rodrigues (junho 26, 2009 1:58 PM) disse:

Enxergar as redes sociais como ferramenta para lucro imediato é algo que tem sido objetivo de muitas empresas, porém defendo que o ganho das redes se dá muito mais de forma intangível. Ou seja, a empresa que consegue se firmar nas redes acaba gerando valor para sua marca, fidelizando seus stakeholders e criando influência. O retorno será no longo prazo.

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