[13 de junho de 2009]

Corrida pela Identidade Virtual no Facebook

facebook-logo.jpgA partir da madrugada de hoje, já é possível registrar URLs com o seu nome/apelido no Facebook. A notícia, que foi propagada aos quatro ventos durante toda a semana ampliou o seu impacto e iniciou uma corrida pelo registro dos usernames. Acompanhando pelo Twitter, o Facebook tornou-se um dos trending topics, não apenas com pessoas registrando seu nome, mas igualmente de gente reclamando que não tinha conseguido um registro satisfatório.

A decisão do Facebook, de permitir "URLs de vaidade" (www.facebook.com/teunome) é complicada. Primeiro porque toca numa questão fundamental: a construção da identidade no ciberespaço. Segundo porque provoca uma nova necessidade de registro de um nome para garantir a presença. A questão da identidade virtual já foi trabalhada por muitos pesquisadores. De uma forma geral, a mediação da Internet impede que se tenha um contato direito, no processo de comunicação, com aquilo que nos é mais individual, nossos corpos. No entanto, saber com quem se está interagindo é crítico para o processo de comunicação. Com isso, na Internet, a construção da identidade é fortamente caracterizada pela personalização e pela performance, como formas de exagerar a presença e a individualidade. Essas práticas tomam muitas formas, como a construção de perfis, de linguagem característica, de fotografias e, também, pelo uso de um apelido ou nome.

Assim, por permitir que as pessoas registrem os apelidos, o Facebook torna a construção de identidade uma comodity, onde o registro do nickname pode ser uma forma não apenas de garantir a identidade, mas de comprá-la e vendê-la. Deste modo, muita gente foi ao registro apenas para "garantir" seu username e impedir que outros o registrem e utilizem, e não porque considera interessante utilizá-lo. A corrida pelo registro no sistema, assim, não é medida do impacto que ele tem, mas simplesmente, da necessidade de garantir a presença no ciberespaço.

Outras leituras sobre identidade:
Repositório de artigos recomendados do Daniel Chandler.
por raquel (11:31) [comentar este post]


Comentários

André (junho 13, 2009 2:18 PM) disse:

Olá Raquel. Gosto da tua análise, mas fiquei enroscado na sua conclusão. Permita-se especular um pouco?... "Garantir a presença no ciberespaço" a partir da maneira como quero apresentar meu nome ou apelido nao seria mais ou menos como eu decidir com que roupa eu vou a uma festa, ou encontro, ou em qualquer lugar? Ou seja, seria muito desagradável se na hora que eu abrisse meu guarda-roupas ele piscasse uma mensagem dizendo: 'essa combinação de roupas já está sendo usada por alguém que vai na mesma festa que você. sugerimos as seguintes combinações? x, y, z, etc'... aí eu só teria poucas possibilidades de escolha, ou então teria que me desdobrar em criatividade para fazer outra combinação.
É um doidera essa analogia, mas de qualquer forma, parece que o problema é o mesmo velho de sempre, o de que a impossibilidade técnica impossibilita a ambiguidade na internet, ou seja, uma única url abrir duas ou mais páginas.
No entanto, como as práticas identitárias, ao meu ver e bem a grosso modo, parecem se dar no imbricamento de formas (perfis, imagem, linguagem) de identificação e diferenciação, acho que sempre os sujeitos darão conta de encontrar maneiras de lidar com isso.
Por isso, acho que as pessoas que "correram" para o facebook para "garantir" o que talvez eles pensem qser o reflexo de suas identidades, apenas não conseguem 'encarar' ou 'assumir' identidade como algo sempre em construção por processos de identificação e diferenciação na presença de alteridades.... ou algo assim

Acho que falei demais...
Abs.
André

raquel (junho 14, 2009 9:32 AM) disse:

Oi André!
Sim, é isso mesmo. A minha idéia de "presença" passa por essa visão de performance, de ator, de palco. :D Com certeza é o mesmo velho de sempre: queremos ser iguais e diferentes. Talvez eu não tenha sido tão clara no post, mas a idéia é que os nomes - apelidos, nicks - têm uma significação especial para as pessoas no ciberespaço. Foi uma das primeiras coisas que eu notei quando comecei a pesquisar a área. Perder um apelido num canal de chat, um username em uma plataforma e etc. era um caso seríssimo para os envolvidos. :)

Roberto (junho 14, 2009 11:49 AM) disse:

Olá Raquel,

Estava escrevendo um artigo sobre Web Social neste momento e resolvi dar uma passada no seu blog para encontrar algum trabalho seu que fale sobre a questão de "apropriação" em redes sociais (já li vários posts seus sobre isso e, portanto, vou citá-la).

Agora,... esse seu post sobre a questão de identidade é super relevante e pertinente. Smith [http://nform.ca/publications/social-software-building-block] montou um honeycomb sobre os elementos-chave dos sistemas sociais, e identidade é considerado pelo mesmo como o elemento central.

Concordo com teu ponto de vista, e acho superinteressante!!! essa visão da identidade como um commodity. Acho que essa "corrida" para garantir um endereço com o "seu nome", se deve à necessidade de manter seu espaço, e ao medo de perdê-lo... de ver alguém usando-o... acredito entrarmos numa questão de credibilidade\reputação também.

roberto (junho 14, 2009 11:53 AM) disse:

[comentário OFF]
oi Raquel... falando em citações... citarei teu blog numa passagem que menciono brevemente a questão de identidade... mas gostaria de saber se você tem algum artigo que também aborda isso e que eu possa referenciar.
Obrigado ;)
Roberto
[robertop.ihc@gmail.com]

André (junho 15, 2009 5:13 PM) disse:

Raquel

fale um pouco sobre a sua percepção sobre os +RTs do migre.me... assunto das suas duas últimas twittadas... como assim + "please rt" e menos relevância??

Milena Carvalho (junho 16, 2009 3:41 PM) disse:

Boa tarde, Raquel.

Sou estudante de Produção Editorial em Belo Horizonte e estou desenvolvendo um TCC relacionado ao jornalismo e às redes sociais graças a um artigo escrito por você. Será que você poderia me passar seu e-mail para trocarmos matérias e conversar um pouco a respeito? No fim do ano pretendo fazer a prova de mestrado também voltada para a área de redes sociais e também gostaria de alguns conselhos sobre universidades que apresentam estrutura para os estudos na área. Bom, aguardo seu retorno e desde já agradeço a atenção.

João Baptista (junho 20, 2009 9:55 AM) disse:

O FB foi espertíssimo: de "id=45355x35667778788", que justamente não expressa identidade alguma, passo a me auto-afirmar identitariamente, ao substituir os números frios e impessoais da id, por um nome que eu mesmo escolho. Há também o aspecto da praticidade: posso escolher usar, no FB, uma url facilmente "lembrável" por outras pessoas. Estou num boteco, paquero alguém e, ao invés de trocar e-mails ou msn, ficaria um diálogo assim: P. "qual o teu FB?" R: "meu FB é nometal". Um terceiro aspecto, seria o uso comercial: uma empresa pode registrar (ié, se não tiverem escolhido antes), no FB, uma url com sua denominação. Ou com o nome de domínio de seu site. Isso é muito importante pois, neste momento, as empresas estão dourando a pílula das redes sociais na internet, como instrumento para estabelecer um contato mais direto e menos impessoal (como um site .com qualquer), com seu público consumidor. Então, me parece que o FB também levou isso em conta. Tanto que, na véspera do dia em que passaria a permitir o uso de urls personalizadas, colocou no ar uma página voltada apenas para pessoas jurídicas (inclusive solicitando seu número de registro, que no caso brasileiro seria o cnpj)no sentido de assegurar que esta ou aquela empresa, pudesse adorar uma url compatível com sua denominação comercial.

raquel (junho 21, 2009 8:35 AM) disse:

JB: É isso aí. :)

Renato (maio 30, 2011 8:50 PM) disse:

Oi, sempre visito seu blog ... mas nunca comentei, adorei esse post! Parabens e sucesso!

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